Silêncio no coração dos pássaros é um romance intenso e emocionalmente poderoso, centrado na autodescoberta e no confronto com a dor do fim de um ciclo.
Quando decide pôr fim a um casamento de vinte e sete anos, Laura, uma prestigiada violinista, revisita os principais momentos da sua vida: em criança, o amor pelo violino, o único capaz de preencher os silêncios de uma infância solitária; na transição para a idade adulta, a busca por respostas – ou talvez a compreensão de como se formulam melhor as perguntas; e a certeza de que é na música, sempre na música, que verdadeiramente se encontra.
No prolongamento da catarse, a chegada à maioridade, Álvaro e uma história de amor sem grandes sobressaltos, mas também sem grande entusiasmo; uma parceria apática em casa e na orquestra; e o início do fim: a digressão que faz sozinha pela Europa, a relação com Thomas, um clarinetista austríaco mais novo do que ela, e a tomada de consciência de que é sempre possível fazer voltar a vibrar uma corda que há muito se calou.
Citações
«Após fechar a bagageira, demorei-me a olhar para as janelas. Fora feliz naquela casa. Verdadeiramente feliz. Mas a felicidade outrora serena e moradora naquele prédio havia mudado para outro lugar. Era tempo de a seguir. Ou de, pelo menos, tentar.»
«Aguardei pacientemente que o meu mundo colapsasse, ignorante de quando esse momento chegaria, em que circunstâncias, desconhecedor de qual seria o gatilho que o faria chegar e de como eu reagiria. Toda a incerteza perante uma coisa que, para mim, era a mais clara das certezas.»
«No momento em que fechasse a porta, deixaria para trás vinte e sete anos de um casamento que definhara como definham as pessoas consumidas por doenças das quais não se dão conta até que seja tarde de mais. Deixei-me ficar uns segundos parada, a mão pousada no puxador, a respiração presa no peito, a vida suspensa naquele momento. No instante em que fechasse a porta, seria o fim. E o início.»
«Quem nos via, a não ser que nos conhecesse, não diria que éramos um casal com um passado de décadas. Era como se cada um vivesse num mundo muito próprio, habitado apenas por si e ao qual o outro era estrangeiro, uma visita que vinha sem trazer mala.»
Críticas
«Como uma maestrina, Lénia Rufino em Silêncio no coração dos pássaros, conduz-nos pela alma humana e as suas variações, um discurso melódico que fala dos grandes desígnios sem esquecer as distorções ou a corda que parte. O que mais podemos esperar da Literatura?» João Pinto Coelho, Prémio LeYa
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